Em 1918, Areia Branca, porto do mar bastante frequentado por
navios de várias procedências, foi infestado por uma febre de natureza
epidêmica que se alastrou rapidamente por toda a vila e município.
Em extenso telegrama datado do dia 2 de outubro de 1918, o
Presidente da Intendência, Cel. Francisco Fausto de Souza, fez a seguinte
comunicação ao Governador do Estado: –
OBS: O TEXTO FOI ADAPTADO: “Há dias aportaram aqui vindos
diretos da Europa os vapores “Corcovado” e “Macury” trazendo a bordo quase
todos tripulantes doentes. O médico Péricles Alencar examinou os doentes, e
declarou ser influenza sem importância. Houve comunicação para as autoridades
em terra.
Os estivadores que trabalharam nos navios, dias depois
regressaram à terra atacados pela moléstia. O médico fez desinfecção no vapor
“Corcovado”, sendo que o “Macury”, seguiu viajem para Recife.
Todas as pessoas que foram à bordo, principalmente os
estivadores, voltaram doentes e alguns gravemente, com muita febre e vômitos
com sangue”. O Intendente Municipal solicitou auxilio ao Governo.
Em 5 de outubro de 1918 o Cel. Fausto expediu novo telegrama
ao Governador do Estado e ao Delegado de Saúde do Porto de Natal comunicando “a
chegada naquele dia de um navio procedente da Itália com muitos tripulantes
doentes e proibira comunicação com pessoal de terra.
O Governo autorizou a construção de isolamento por conta do
Estado e outras despesas” conforme intensidade da moléstia”. O Inspetor de
Saúde dos Portos telegrafou ao Delegado de Policia explicando que a “doença
trazida pelos vapores da Europa é gripe ou Influenza espanhola, e que fica
proibição visita a navios”.
Em 9 de outubro de 1918, o Intendente Francisco Fausto
informa ao Governador que a “moléstia continua alastrando-se com intensidade”.
Foi designado o Intendente Artur Paula para ir a Mossoró contratar um médico e
um prático de farmácia para ajudar o farmacêutico local Jose Rolim.
Foi contratado o Dr. Jerônimo Rosado Filho que prestou
relevantes serviços na extinção da peste. Em 11 de outubro, Francisco Fausto
informa ao Governador que a “moléstia alastra-se com excessiva rapidez e já
excedem de 200 pessoas. Dois casos fatais”. Acrescentando “chegou ontem Dr.
Rosado Filho que já medicou grande número doentes. ”
Em 16.10.1918 Fausto informa: – “Que a epidemia continua
gravíssima na Vila, contando 500 doentes e mais de 20 casos fatais”. Curioso é
que em meio de tantas preocupações, o Cel. Fausto recebe telegrama de Macau,
seguinte: – “Presidente Intendência Areia Branca – Favor fazer público policia
sanitária aqui não consentirá desembarque doentes influenza. Saudações.
Valentim Almeida. – Presidente Intendência.
No dia 11.10.1918 o Presidente do Conselho Escolar telegrafa
mandando fechar Grupo Escolar e demais escolas, medida que foi tomada em todo o
País! Em 29 de outubro, Francisco Fausto comunica ao Governador que a epidemia
está declinando bastante graças a atuação médica do Dr. Rosado Filho.
E, finalmente em 14.11.1918 Francisco Fausto telegrafa ao
Governador: – “Epidemia vila Areia Branca extinta.
“Em Grossos e outras localidades do município, a epidemia se
alastra. Com muitos doentes”.
A Intendência Municipal despendeu para debelar a epidemia a
quantia de 11.493$830. O Estado contribuiu com 4.603$000 sendo 3.000$000 em
dinheiro e 1.603$000 em medicamento. O Dr. José da Cruz Cordeiro industrial
salineiro no município fez a doação espontânea de 1.000$000. Faleceram 51
pessoas de ambos os sexos e cerca de 500 contaminados.
OBS: Em Natal, com população de 30 mil habitantes,
particularmente, o número de infectados foi alarmante. Para se ter uma idéia,
só o posto de socorro do Alecrim, atendeu de 15/11 a 15/12/1918, 10.814
pessoas. A em epidemia levou a óbtos 187 pessoas.
FONTE: “Minhas Memórias de Areia Branca”, do historiador
Luiz Fausto de Medeiros.
A REPÚBLICA, Natal – 14. Outubro de 1918 a 21 de Março de
1919.