Museu Lauro da Escossia |
A manhã daquele domingo em minha infância entraria definitivamente nas melhores páginas que compõem o livro das minhas lembranças.
Manhã em que, sob o pretexto de dar banho em nosso cão, descambamos às gargalhadas pela Rua das Almas, rumo a um tipo de praia que se formava bem ao lado do prédio de F. Souto. Eh!... é bem verdade que o cão parecia feliz junto à meninada; todavia, não mais que eu.
Ali, eu estava a viver meus dias de férias, de maneira que tudo se traduzia como novidade perante meus olhos de menino forasteiro: fosse pela maré que dava a sensação que também queria conhecer as ruas da cidade, uma vez que ainda não existia o quebra-mar na rua da frente ou pelo bando de velas branquinhas que dançavam ao sabor do vento, as mesmas que eu via como bandeiras nos barquinhos de madeira que pareciam cochilar.
Ontem, sonhei que retornava a esse lugar da infância. Só assim eu pude assistir a mim mesmo caminhando novamente por aquela rua estreita, ainda de areias e margeadas à esquerda, a partir do velho pé de algaroba da esquina do cemitério, pelas coloridas casinhas, emendadas umas as outras até o prédio verde da esquina.
Igual a outra vez, ávido, dirigi-me ao lugar onde a felicidade parecia nunca cessar, pois eu de longe conseguia escutar os latidos do velho cão misturados às conhecidas gargalhadas que se desprendiam das antigas páginas de mim mesmo.
Já com os pés submersos na água, por um momento, hesitei, quando olhando em direção à Barra não via os raios de sol que costumavam pratear as alvas velas de algodão cru.
Ainda bem que se tratava de mera impressão, pois alvor maior que o próprio sol ia de mansinho encostando bem ao meu lado: era a própria infância que, vestida de barco, ali tão pertinho e abarrotada de felicidade.
Por Renato Borges
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