Em minha alma ainda se veem facilmente as paredes que ousaram ir além do óbvio: quando deixaram de ser simplesmente paredes transformando-se nas muralhas que blindam minhas mais doces lembranças da infância.
Ora, até perdi as contas das vezes que não querendo desperdiçar os minutos tão preciosos das manhãs das férias, preferia em vez da água sempre disponível nas tigelas e vasilhas sobre a mesa da cozinha, usar as ditas paredes, as que davam contornos à casa da esquina entre as ruas Deputado Manoel Avelino com a Coronel Fausto (Rua do Meio) como toalhas.
Assim, quando desejo, o que não é raro, vejo-me endiabrado a correr pelos domínios do encantado espaço. Sim... Se toda infância que se preze deve ser tomada por lugares mágicos, ali, por ironia do destino, serviu-me como castelo em meus mais tenros anos... É que demoliram a inesquecível casa quando meus primeiros fios de bigodes surgiam em meu rosto.
Mas ainda estão lá... Sei que estão!... As altas cumieiras que deixavam o vento da noite passar simulando os assobios que incrementavam as histórias que faziam eu e meus primos adormecermos amedrontados; as areias do quintal que, de tão alvas, deixavam aqueles dias vestidos de sol e o portão dos fundos com seu ferrolho de madeira que abria e fechava em movimentos circulares, permitindo passagem a todos que eu via como especiais, os seres que hoje, sem pestanejar, eu sussurraria em seus respectivos ouvidos um "eu te amo". Afinal, como diria um trecho do meu primeiro livro de leitura: "o essencial é invisível aos olhos".
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