Imagem Meramente ilustrativa |
Quando a família de Custódio foi embora, no velho casarão da rua Ferreira Souto ficou apenas a moça de branco que em minhas invencionices cantava imitando o vento quando brincava de me assombrar no primeiro andar.
Talvez, o constante bater das venezianas que no alto se viam abertas tenham lhe despertado do sono que desrespeitava o tempo ou, quem sabe, nossas algazarras no beco da casa da nossa avó tenha lhe despregado das histórias que os mais velhos narravam.
Lembro-me que alguém falou que esses vizinhos tinham ido morar em Recife e que essa nova morada, sob minha ótica de menino, ficava além da Serra Vermelha e Piquiri e que, assim, eles nem se importariam caso eu pudesse me embriagar de curiosidade, tentasse me insinuar por alguns instantes a mulher de branco que me assombrava.
Eh!... Nunca me esqueci do ranger das tábuas das escadas do velho casarão ante meus apreensivos passos. A poeira que se misturava à caliça caída das paredes e ao devastador silêncio não deixavam dúvidas: ali, o inconfundível hálito das horas mostrava-se imponente. Um ponto de vista ratificado pelo tropel que, no exato instante da minha bisbilhotice acompanhava o cortejo de alguém que vencido por essas mesmas horas, quando lentamente deslizava rumo ao largo portão do cemitério ali próximo.
Todavia, com a chegada da sono tudo se amplificava e nas noites das muitas férias de fevereiro, eu, inutilmente figurava agarrado aos beirais dos lençóis temperados com cheiro de sabão de barra, deitadinho na rede de rendas brancas e presa aos previsíveis armadores do quarto da frente, quando deixava o olhar ser, aos poucos, diluído pela gravura de um Santo Expedito que parecia baloiçar na parede por força da claridade das velas acesas no oratório de tia Chica.
Com o passar dos anos, resolveram vestir as alvas ruas com fileiras de paralelepípedos, não tardando que o velho casarão e as lembranças das silhuetas de quem o habitou se desbotassem ante os desejos dos novos donos. No entanto, com a mesma certeza que as lembranças da infância por muito tempo me acompanharão, sei que o velho casarão e seus seres ainda continuam no mesmo lugar, vestidos de nada por detrás de todos os golpes de vista, como se esperassem por mim.
Meu nome é Vera Lucia Rocha gostaria de saber se essa família ainda se encontra alguém viva pois tenho enternece de saber obrigado pela atenção
ResponderExcluirO escritor da materia é Renato Borges. Talvez ele tenha essa informação. No facebook o pode encontra-lo por esse perfil.
ExcluirEspero que possa mim informar mais uma vez obrigado
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