terça-feira, 26 de setembro de 2017

PREGUIÇA, O VENDEDOR DE BOLOS - POR RENATO BORGES



Há vários dias, Preguiça, o vendedor de bolos de tia Chica, não aparecia pelas bandas dos últimos quarteirões da Rua Francisco Ferreira Souto, ali próximo ao cemitério.
Como ele tinha a mania de só aparecer quando bem queria, não nos preocupamos muito com o sumiço do mesmo.
Aí, em certa tarde, quando minha avó estava, após o almoço, a tirar um cochilo em sua cadeira de balanço, eis que medonha silhueta surge silenciosamente no vasto alpendre, quase matando minha avó de susto. Era preguiça ostentando um semblante de quem não comia há dias, fora os cabelos arrepiados que pareciam emoldurar o par de olhos amarelados sobre raquítico corpo.
Minha avó, compadecida com a situação de Preguiça, lança ao mesmo um brado de esperança:
--- Preguiça, menino, vá à cozinha e pegue o que desejar para almoçar.
Ora, Preguiça não contou conversa, como falam. No entanto, quando ele já estava abrindo as panelas, minha avó complementa:
--- Você já é de casa, Preguiça, coma a vontade. --- Só precisas lavar uma colher e um prato, pois a menina que ajuda aqui não veio hoje!
Essa última fala da minha avó chegou aos ouvidos de Preguiça como chibatada. Tanto é que, ele foi se distanciando das panelas, soltando antes de ir embora uma última frase:
--- Dona Raimunda, acabei de lembrar que estou sem fome!
Só a partir de então é que passamos a constatar que não existia na face da terra nome ou apelido que caísse tão bem naquele vendedor de bolo quanto esse --- "Preguiça".


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