segunda-feira, 15 de abril de 2019

INFÂNCIA EM AREIA BRANCA - POR RENATO BORGES



Quando nos idos da meninice, mais precisamente nos recortes temporais das minhas férias em Areia Branca, tinha de intercalar as brincadeiras com algumas tarefas triviais da casa da minha avó, tipo: ralar cocos para as cocadas de tia Chica, ajudar Nego Velho (o Homem da Saca, outra alcunha que vestia esse pitoresco morador) a recolher do velho pilão o que se transformaria em paçoca para o almoço, ir com meu tio Jorge nas noites clareadas apenas com a luz da lua atrás dos pães vendidos em uma padaria que ficava próximo a casa de Zé Noronha (lá na entrada da cidade), dentre tantas doces obrigações.
O pagamento atinente a minha participação nesses enredos vinha do próprio descortinar propiciado por um leque de curiosidades que se dispunha diante dos meus olhos traquinas. Tanto é que, não à toa, ainda me vejo perdido em lembranças, como se ainda perambulasse nas cercanias da Pracinha do Por-do-Sol, pois frequentemente levava recados a um ilustre morador daquelas imediações, digo melhor, a Seu Cirilo.
Mesmo sem a mínima necessidade, pois onde já se viu menino preocupado com o tempo, fosse ao me deparar com o mesmo ou ao partir, eu lhe lançava duas vezes a mesmíssima pergunta:
--- Seu Cirilo, o Senhor poderia me dizer as horas?
Calma!... Eu não era abestalhado... Logo lhe explico: é que eu adorava ver aquele cavalheiro com trejeitos de lord Inglês, retirar algo pouco comum de um dos bolsos: um reluzente relógio preso a uma correntinha de ouro.
Satisfeito, eu retornava a casa, não só com a certeza do dever cumprido, mas por me ver personagem igualzinha as dos livros de fábulas que lia.

Renato Borges

2 comentários:

  1. Essa padaria próximo a Zé Noronha era de Joaquim Rebouças

    ResponderExcluir
  2. Com certeza a padaria era de joaquim Rebouças mesmo, trabalhei muito nesta padaria, o nome era padaria Nossa senhora de Fátima

    ResponderExcluir