OPINIÃO - CINE MIRAMAR: MITO, UTOPIA E O DESCASO COM O FUTURO

Quando me deparo com comentários sobre a conservação do antigo prédio que funcionava como cinema, vejo que as opiniões tem mais embasamento politiqueiro do que prático. Esquecem ou desconhecem que cinema no Brasil nunca foi iniciativa pública e o objetivo principal era o lucro com a venda de ingressos. A continuação das milhares de salas de cinema espalhadas pelo país estava justamente condicionada ao lucro. Por mais que a “cultura” esteja inserida nas produções cinematográficas, o objetivo principal era o mero entretenimento das massas. Esse saudosismo, essa nostalgia do cinema é algo até infantil, que nunca vai fazer parte da realidade crua: cinema é comércio. Quando as paredes daquele antigo prédio foram demolidas, uma era de ouro já havia passado. A outra sala, o “Cine São Raimundo”, já havia fechado suas portas e o prédio dado lugar a uma agencia bancária. Porém vamos deixar de lado a nostalgia e nos prender a realidade ou ao futuro. Vamos até o local onde habitou o famoso cinema e o que veremos? Descaso! Sim, a nostalgia do cinema deu lugar ao descaso e a uma obra abandonada. É nessas coisas que a população da cidade e os bons políticos devem se preocupar: a falta de transparência com o dinheiro público que é gasto ou mal gasto, o descaso com as obras inconclusas e que muitas vezes são concebidas de um projeto bastante duvidoso (vide praça do “pôr-do-sol”). Alguns até reivindicam o tombamento do prédio, mas se formos voltar no tempo, houve prédios muito mais importantes e com bela arquitetura que foram destruídos sem nenhuma lágrima (cá entre nós, aquele prédio não tinha beleza). E resumindo: temos hoje uma obra abandonada e que mesmo sendo conclusa não saberíamos como estaria sendo utilizada por uma gestão em “crise”. Deve-se mudar e muito essa mentalidade que prende a sociedade a um passado ocioso e acomodado para sair desse “virtual progresso”.

Por Angelo Vale.