sexta-feira, 20 de novembro de 2020

A INAUGURAÇÃO DA MATERNIDADE - POR RENATO BORGES

 


Quase tudo nessa vida só consegue sobreviver graças à matéria prima que o justifique. Se pão precisa de trigo, lambedor necessita de açúcar; toda maternidade, obviamente, roga aos céus que grávidas adentrem em suas dependências fazendo valer o que bem nos repassa o famoso Sermão da Multiplicação, ou seja, se nelas embiocam um, dois (no mínimo) pelas portas deverão sair.

Dessa feita, no finalzinho dos Anos Sessenta, Areia Branca havia ganhado seu pomposo prédio com ares de modernidade, a Maternidade Sara Kubitschek. Como foi construída entre o amplo espaço que posteriormente daria vazão à praça do São Raimundo e os "baldos" da salina aos fundos, era ponto que facilmente destoava na mira de todos os olhares.

Todavia, fazia dias da dita inauguração sem que nenhum parto no dado espaço ocorresse; nenhuma gotinha de sangue nos jalecos dos médicos e enfermeiros que pudessem aumentar a fama do lugar: nenhum choro gasguito de criança, aqueles que nas novelas se espalham nos ambientes após a tão esperada palmada nas diminutas bundas.

Sim. A coisa já estava ganhando ares de preocupação. E se de repente resolvessem fechar o lugar ou destiná-lo a outra serventia? Até já circulava pela cidade certos rumores: que se algumas cidades possuem aeroportos que não recebem aviões (como a Mossoró da época), em Areia Branca existia uma maternidade que não contribuía com a vinda de crianças ao mundo.

Mas ufa!... Como Deus escuta aos seus, até que em fim, a maternidade seria inaugurada.

E um misto de apreensão, agradecimento e comédia, além de temperar aquele ambiente de saúde e cura, alastrava-se com a ajuda dos ventos pelas redondezas. É que, dizem, que a pioneira mãe foi Tutu, caricata e amada personagem areia-branquense.

É que ganharam destaques na eternidade os gritos de Tutu na hora do citado parto:

--- Parem... Parem... Parem... --- Está ardendo mais que pimenta, clamava a pobre mulher.

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Imagem: Maternidade Sara Kubitschek no dia da sua inauguração. 1959 (data provável do clique).

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