Quase
tudo nessa vida só consegue sobreviver graças à matéria prima que o justifique.
Se pão precisa de trigo, lambedor necessita de açúcar; toda maternidade,
obviamente, roga aos céus que grávidas adentrem em suas dependências fazendo
valer o que bem nos repassa o famoso Sermão da Multiplicação, ou seja, se nelas
embiocam um, dois (no mínimo) pelas portas deverão sair.
Dessa
feita, no finalzinho dos Anos Sessenta, Areia Branca havia ganhado seu pomposo
prédio com ares de modernidade, a Maternidade Sara Kubitschek. Como foi
construída entre o amplo espaço que posteriormente daria vazão à praça do São
Raimundo e os "baldos" da salina aos fundos, era ponto que facilmente
destoava na mira de todos os olhares.
Todavia,
fazia dias da dita inauguração sem que nenhum parto no dado espaço ocorresse;
nenhuma gotinha de sangue nos jalecos dos médicos e enfermeiros que pudessem
aumentar a fama do lugar: nenhum choro gasguito de criança, aqueles que nas
novelas se espalham nos ambientes após a tão esperada palmada nas diminutas
bundas.
Sim.
A coisa já estava ganhando ares de preocupação. E se de repente resolvessem
fechar o lugar ou destiná-lo a outra serventia? Até já circulava pela cidade
certos rumores: que se algumas cidades possuem aeroportos que não recebem
aviões (como a Mossoró da época), em Areia Branca existia uma maternidade que
não contribuía com a vinda de crianças ao mundo.
Mas
ufa!... Como Deus escuta aos seus, até que em fim, a maternidade seria
inaugurada.
E um
misto de apreensão, agradecimento e comédia, além de temperar aquele ambiente
de saúde e cura, alastrava-se com a ajuda dos ventos pelas redondezas. É que,
dizem, que a pioneira mãe foi Tutu, caricata e amada personagem
areia-branquense.
É que
ganharam destaques na eternidade os gritos de Tutu na hora do citado parto:
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Parem... Parem... Parem... --- Está ardendo mais que pimenta, clamava a pobre
mulher.
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Imagem:
Maternidade Sara Kubitschek no dia da sua inauguração. 1959 (data provável do
clique).
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