NASCIMENTO E O LOBISOMEM - POR PAULO CÉSAR BRITO

 

Paulo C. Brito

 Desde criança sempre fui escabreado com as estórias de assombração e contos misteriosos, a qual os mais velhos, inclusive minha mãe, contava para mim e meus irmãos ouvirem em épocas passadas. E quando os personagens eram pessoas que conhecíamos, menino, era ai em que o medo aumentava mais. Chegava a tremer feito vara de bambu.

Em Areia Branca morava um senhor de nome Nascimento. Ele o velho, morava em um casebre de barro junto com sua esposa. Ele era um velho de cor branca, parecia que o mesmo não tomava banho de sol e nem de mar para bronzear um pouco a sua pele. Para mim ele era super estranho, sempre com o semblante fechado e cabeça cabisbaixa. Cara de mau.

Diziam alguns adolescentes da época, que o velho em noite de lua cheia, se transforma em um terrível lobisomem. Eu, como já disse menino, eu morria de medo do velho. Muita das vezes eu deparava-me com ele sempre sentado em um tamborete feito de madeira e coberto de couro de bode, escorado no muro do campo a conversar com outras pessoas amigas, isso já de tardezinha. Eu passava todo cismado, olhava para Nascimento, aonde uma das vezes ele sorriu em minha direção. Ali, eu já o imaginava: ele marcando-me para ser a sua próxima presa.

Eu via em minha mente no escancarar da sua boca, aqueles dentes amarelados, cheio de cabelos pendurados, como também imaginava pedaços de varias partes do corpo humano, presa entre seus dentes. Era horrível a imaginação. Eu nunca vir Nascimento se transformar em lobisomem. Coisas e imaginação de crianças de interior, podemos dizer ainda matuto.

Muitos dos meus amigos afirmavam categoricamente que Nascimento tinha no alpendre da casa, lá no quintal, um enorme caldeirão de aço com água fervida para colocar os corpos das crianças dentro e cozinhar, depois comer. Que horror! Que confusão passou em minha cabeça.

Porém uma coisa é certa: Nascimento morreu. Agora, será que com ele também morreu a lenda do lobisomem? Eu prefiro não pensar nisso. Que a alma do velho Nascimento descanse em paz. Amém!