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Foto: Autor Desconhecido |
Faltando poucos dias para dar a luz ao primeiro filho, minha mãe estava passando uns dias na casa de vovó Raimunda em Areia Branca. Em certa madrugada, ela acordou para pegar um copo com água na cozinha quando escutou um burburinho na rua; correu às venezianas de uma das janelas da frente da casa, o necessário para notar que se tratava de uma procissão.
Ali, ficou alguns minutos, tempo suficiente para notar que o tal cortejo era formado por centenas de pa...rticipantes, muitos com velas acesas nas mãos. Com o intuito de ver se naquele meio havia algum conhecido, abriu a porta lateral e, em seguida, o velho portão, dando para constatar que todos entravam porta adentro do quartinho ao lado do cemitério. Vencida pelo sono, retornou à cama, pois a noite também precisava seguir seu respectivo curso.
Pela manhã, quando todos estavam à mesa para o café, ela lança curiosa pergunta:
--- Dona Raimunda!... Ontem foi dia de que santo?
--- Pelo que sei, de nenhum, respondeu minha vó.
Todavia, quando a conversa ia esquentando, quando entraria a tal procissão, os responsáveis pelos mistérios do mundo dão uma mãozinha ao fio daquele início de conversa, eis que um esclarecimento entra pelo beco:
--- Dona Raimunda! --- Dona Raimunda!... Epitácio, o coveiro, morreu durante a madrugada!
O ambiente ficou em silêncio. Todos olhavam assustados uns para os outros, enquanto minha mãe, muito crente nas coisas de Deus, tirava da cabeça outra dúvida: como toda aquela multidão, na escuridão da noite, conseguiu entrar naquele minúsculo cubículo onde morava Epitácio.
Acho que todos aqueles que ele havia enterrado vieram lhe prestar uma homenagem, como se aquela procissão fosse um desfile para um rei, minha versão.
Por Renato Borges de Sousa
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O autor: Nascido em Mossoró mas que manteve
fortes raízes na cidade de Areia Branca
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