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Autor desconhecido |
Desde criança sempre tive muita curiosidade de saber o porquê daquele tecido e cor tão marinheiros está a cobrir Nego Velho, também conhecido como o Homem da Mescla.
Nego Velho era todo envolto em mistérios, dele, com sorte, o que conseguíamos era um misto de metáforas com monossílabos roucos. Sabíamos até onde nossa curiosidade deveria ir, até porque ele era muito respeitado, foi um tipo de fada madrinha de todos da minha geração....
Nego Velho era todo envolto em mistérios, dele, com sorte, o que conseguíamos era um misto de metáforas com monossílabos roucos. Sabíamos até onde nossa curiosidade deveria ir, até porque ele era muito respeitado, foi um tipo de fada madrinha de todos da minha geração....
Certo dia, Nego Velho estava mais aberto, mais disposto a uma conversa... mais alegre. Aí, pensei:
--- É hoje!... descobrirei o mistério da mescla!
E comecei, devagarzinho... pergunta a pergunta. E a coisa foi esquentando:
--- Eu já lhe contei de quando era rapaz e gostava de pescar em alto-mar?... --- Não? (disse-me a velha figura).
E prosseguiu:
--- Numa dessas, eu tirava um cochilo numa jangada no meio daquele marzão, quando uma grande tintureira (tubarão) bateu fortemente onde eu estava levando-me às águas; em seguida passou a me atacar ferozmente. --- A mim, só me restou lutar por minha vida: quando a fera veio novamente, saquei de uma faca que levava amarrada à cintura... e cavalguei no bicho, desferindo inúmeras cutiladas, o suficiente para que ele me deixasse em paz.
--- O interior das minhas pernas ficou em carne viva!
O velho contador de histórias ficou por alguns segundos em silêncio, completando:
--- Aprendi a lição, Renato: que a partir daquele momento eu precisaria me vestir com um tecido de responsabilidade.
Ele cessou a história e eu passei a conjecturar que foi a partir daí que ele passou a ser o Homem da Mescla.
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