sexta-feira, 28 de abril de 2017

QUANDO TUDO PASSAVA DEVAGAR - POR RENATO BORGES



Na calçada, um tabuleiro de jogo de damas
desenhado a carvão, como ímã, ia atraindo
a sua volta bêbados, aposentados e os
pescadores que, desatentos, não seguiram
em seus respectivos barcos.
Algo em comum os unia: os beijos nas
lindas mulheres que jamais conheceram;
as riquezas que supostamente parentes
distantes ostentavam, os que dispunham
de tesouros que destoavam com a angústia
gerada pela falta dos míseros tostões
capazes de levar as mãos do bodegueiro
mais próximo até a prateleira vaidosa com
suas filas de garrafas de aguardente.
Como se imitassem as marés, os dias iam e
vinham, sempre com a mesma dormência;
ao redor das horas que enfeitavam as cores
que minha avó tanto gostava, os desejos de
todos pareciam paradinhos, iguaizinhos aos
santos da Igreja Matriz, não os dos quadrinhos
nas paredes, mas os de gesso, os que nos
assustavam de vez em quando, porque eram
estátuas bem maiores que os meninos
do meu tempo... Quando tudo passava
DEVAGAR.

O autor



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