quinta-feira, 1 de março de 2018

JÁ FUI PAVÃO - POR RENATO BORGES

Foto: Chico Etelvino, meu avô e patriarca da família Souza.

Dentre todos os ditados, inquestionável é o que expressa que "jamais se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje". É que pelo tempo que me restar nessa vida levarei no peito consistente dúvida. Afinal, quem poderia saná-la já não está entre nós, meu avó Chico Etelvino.
Pois bem, quem o conheceu, sabe que ele intercalava os dias com antíteses de sentimentos: se em determinada ocasião se mostrava como o mais ranzinza dentre os avós; noutra, parecia criança que se abeberava no banquete das próprias peraltices.
Desses dias mais suaves, trago na memória que raras foram as pessoas que cruzaram seu caminho sem receber do mesmo um carimbo em forma de alcunha. Ora, nem filhos, netos, vizinhos... Ninguém escapava da sua mira.
Quanto a parte que me tange, acho que ele pegou leve, uma vez que eu até me enchia de vaidade ao ouvi-lo me chamar de "Pavão". Afinal, era sorte melhor que a do "Cambraia Bordada" (saudoso Marcos, filho de Elenice de Alberto Elias) ou dos meus primos: o "Cu-Azedo" e o "Bunda-Chocha" kkkk, perdão às damas e cavalheiros, não consegui sinônimos para as elencadas expressões.
Eh!... Nunca consegui tirar essa dúvida, isto é, ter perguntado ao velho Chico Etelvino sobre o porquê de tantas vezes ter gargalhado à medida em que me chamava de "Pavão" e pelo visto, uma vez que ele já se foi desse plano, continuarei sem um esclarecimento preciso.
O mais próximo de uma conclusão veio da vez em que me sentei ao lado de Tia Nega que, em silêncio e há horas, parecia filosofar no centro da sala. De repente, do nada, ela sorri, resgatando o tal "Pavão" que me representou na infância.
Embora ela confessasse que não tenha também recebido alguma explicação do criador do famoso mote, deduzia que muitas vezes, a distância, meu avô me flagrou, quando eu ainda nem dez anos tinha, a empanturrar meus cabelos com os potinhos de brilhantina e perfumes dos meus tios.
E gargalhamos muito quando ela falou que eu, após as citadas sessões de beleza, corria às ruas todo enfeitado da cintura para cima, mas mantendo o mesmo calção do dia anterior, além dos pés enfurnados em encardidas sandálias.

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