quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A PANDEMIA DE 1918 EM AREIA BRANCA NA VISÃO DE LUIZ FAUSTO DE MEDEIROS

 



Em 1918, Areia Branca, porto do mar bastante frequentado por navios de várias procedências, foi infestado por uma febre de natureza epidêmica que se alastrou rapidamente por toda a vila e município.

Em extenso telegrama datado do dia 2 de outubro de 1918, o Presidente da Intendência, Cel. Francisco Fausto de Souza, fez a seguinte comunicação ao Governador do Estado: –

OBS: O TEXTO FOI ADAPTADO: “Há dias aportaram aqui vindos diretos da Europa os vapores “Corcovado” e “Macury” trazendo a bordo quase todos tripulantes doentes. O médico Péricles Alencar examinou os doentes, e declarou ser influenza sem importância. Houve comunicação para as autoridades em terra.

Os estivadores que trabalharam nos navios, dias depois regressaram à terra atacados pela moléstia. O médico fez desinfecção no vapor “Corcovado”, sendo que o “Macury”, seguiu viajem para Recife.

Todas as pessoas que foram à bordo, principalmente os estivadores, voltaram doentes e alguns gravemente, com muita febre e vômitos com sangue”. O Intendente Municipal solicitou auxilio ao Governo.

Em 5 de outubro de 1918 o Cel. Fausto expediu novo telegrama ao Governador do Estado e ao Delegado de Saúde do Porto de Natal comunicando “a chegada naquele dia de um navio procedente da Itália com muitos tripulantes doentes e proibira comunicação com pessoal de terra.

O Governo autorizou a construção de isolamento por conta do Estado e outras despesas” conforme intensidade da moléstia”. O Inspetor de Saúde dos Portos telegrafou ao Delegado de Policia explicando que a “doença trazida pelos vapores da Europa é gripe ou Influenza espanhola, e que fica proibição visita a navios”.

Em 9 de outubro de 1918, o Intendente Francisco Fausto informa ao Governador que a “moléstia continua alastrando-se com intensidade”. Foi designado o Intendente Artur Paula para ir a Mossoró contratar um médico e um prático de farmácia para ajudar o farmacêutico local Jose Rolim.

Foi contratado o Dr. Jerônimo Rosado Filho que prestou relevantes serviços na extinção da peste. Em 11 de outubro, Francisco Fausto informa ao Governador que a “moléstia alastra-se com excessiva rapidez e já excedem de 200 pessoas. Dois casos fatais”. Acrescentando “chegou ontem Dr. Rosado Filho que já medicou grande número doentes. ”

Em 16.10.1918 Fausto informa: – “Que a epidemia continua gravíssima na Vila, contando 500 doentes e mais de 20 casos fatais”. Curioso é que em meio de tantas preocupações, o Cel. Fausto recebe telegrama de Macau, seguinte: – “Presidente Intendência Areia Branca – Favor fazer público policia sanitária aqui não consentirá desembarque doentes influenza. Saudações. Valentim Almeida. – Presidente Intendência.

No dia 11.10.1918 o Presidente do Conselho Escolar telegrafa mandando fechar Grupo Escolar e demais escolas, medida que foi tomada em todo o País! Em 29 de outubro, Francisco Fausto comunica ao Governador que a epidemia está declinando bastante graças a atuação médica do Dr. Rosado Filho.

E, finalmente em 14.11.1918 Francisco Fausto telegrafa ao Governador: – “Epidemia vila Areia Branca extinta.

“Em Grossos e outras localidades do município, a epidemia se alastra. Com muitos doentes”.

A Intendência Municipal despendeu para debelar a epidemia a quantia de 11.493$830. O Estado contribuiu com 4.603$000 sendo 3.000$000 em dinheiro e 1.603$000 em medicamento. O Dr. José da Cruz Cordeiro industrial salineiro no município fez a doação espontânea de 1.000$000. Faleceram 51 pessoas de ambos os sexos e cerca de 500 contaminados.

OBS: Em Natal, com população de 30 mil habitantes, particularmente, o número de infectados foi alarmante. Para se ter uma idéia, só o posto de socorro do Alecrim, atendeu de 15/11 a 15/12/1918, 10.814 pessoas. A em epidemia levou a óbtos 187 pessoas.


FONTE: “Minhas Memórias de Areia Branca”, do historiador Luiz Fausto de Medeiros.

A REPÚBLICA, Natal – 14. Outubro de 1918 a 21 de Março de 1919.


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