terça-feira, 14 de janeiro de 2025

A MÁQUINA DE COSTURA LÁ DE CASA



 A máquina de costurar da minha mãe foi bem mais que meu melhor brinquedo da infância: tantas vezes foi máquina do tempo que me transportava ao futuro que ainda não recebeu meus pés de adulto; mediante única palavra, a dela própria, SINGER, ela me ensinou a ler antes mesmo que eu me sentasse em algum banco de escola; em vezes que até perdi a conta, talvez, por também ter escutado da boca do meu padrinho que ele me levaria em seu caminhão mundo afora, transformava-se na boleia que me levou nas viagens que eram só minhas.

Nunca me esqueci das suas gavetinhas de madeira, eram cofres para minhas doces bugigangas: cotocos de lápis, tampinhas de refrigerantes com efígies das minhas personagens de quadrinhos, figurinhas de chicletes, castanhas de cajus que aguardariam ansiosas serem disputadas como moedas nas brincadeiras da meninada... Ah! como eu queria que elas fosses gigantes e eternas, pois só assim caberiam essa saudade.
Nossa!... Às vezes, ela de mim até debochava: se alguém replicasse que eu teria aumentado alguns centímetros de tamanho, ela prontamente deixava que girassem sua tampa como se faz com um livro... pronto, por instantes, era parecia dispor de duas asas enormes de avião, era a pura metamorfose de uma mesa cheia de moldes de papel e tecidos que, cortados, iriam às festas a mim não permitidas.
E olhem que ela jamais alardeou vaidades. Caso desejasse, até poderia ter exigido uns pingos a mais de um bom óleo para máquina ou uns mimos de verniz, uma vez que, certamente, teria garantido nosso sustento por incontáveis anos.
Eh!... Hoje, amanheci com baita saudades da minha amiga, a máquina de costura da lá de casa.


Renato Borges de Sousa

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