AS AVENTURAS DE UM PAR DE TÊNIS EM UM DISTANTE CARNAVAL.
Faltando dois dias para ir servir a Marinha, minha mãe me deu meu primeiro par de tênis. Achei-o lindo, branquinho com listras verdes. Na Marinha não consegui usá-lo, porque do mesmo modo que eu fiquei impedido de sair da Base por longos dois meses, o mesmo também ficara em sua apertada caixa. Todavia, como tudo passa nessa vida, nos liberaram no carnaval... e lá fomos nós, eu e meu par de tênis, a Areia Branca.
Quem diria, embora eu não tivesse um só tostão furado nos bolsos, passei o melhor carnaval da vida, uma vez que conheci a mais bela, dentre todas as namoradas que tive, uma verdadeira Gisele Bundcen do Agreste... era perfeita, porque não reclamava de nada; apenas sorria.
Nessa época, quem tinha dinheiro, pulava frevo dentro Ivipany Clube; quem não tinha, como nós, brincava na calçada, usufruindo das migalhas de sons que fugiam por entre as frestas das portas e janelas do clube. Mas, como diziam meus avós: "o diabo ronda nas cercanias desses festejos" e sem muitas delongas, convidei a moça para um passeio lá pras bandas da beira-mar, onde ficam os barcos... que péssima ideia!
Quando comecei a acariciá-la, senti algo meio mole sob o pé direito e, pelo mau cheiro já sabia do que se tratava, o ambiente ficou insuportável, ao ponto de precisar retornar à casa de minha vó para lavar os pés.
Caminhando, eu fingia que nada tinha acontecido, mas ao passar pela pracinha da igreja um garoto pôs fim a minha dissimulação:
--- Moco. Moço! seu tênis tá até o talo de cocô!
Ah!... garoto cruel... por que não ficaste calado?!
Assim, na escuridão da noite, lavei os pés e fomos novamente à festa.
No outro dia, no café da manhã, todos podiam ver que eu estava feliz da vida, pelo menos, até uma colocação de tia Nega:
--- Que coisa é essa?... um tênis branco e outro laranja? o dono desse calçado pode esquecê-lo, pois cocô com colorau quando pega no plástico, nunca mais sai!
Que pena que meu primeiro par de tênis tenha ficado tão pouco tempo diante dos meus olhos!
Renato Borges
Renato Borges
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