Essa pequena entrevista já havia sido pensada a um ano atrás e com a criação desse blog ela criou corpo e foi realizada. Padre José Cezar Rodrigues Teixeira ou simplesmente Padre Cezar, nasceu na cidade serrana de Irauçuba, Ceará em agosto de 1964. Sendo ordenado sacerdote em 2003, o mesmo teve como primeira missão a paróquia de Juazeiro do Norte. Em Areia Branca ele chegou em 2014 substituindo o então Padre Bino. Com humildade e carisma, logo conquistou os fieis da paróquia local, como também parte da população. Seguimos então com a entrevista:
Angelo Vale
![]() |
Desculpe-me pela imagem desfocada. Só percebi quando cheguei em casa |
#areiabrancanossa: O senhor nasceu em uma
família totalmente católica ou havia diferenças doutrinárias?
Padre Cezar: Nasci sim em uma família
totalmente católica, mas, que depois alguns irmãos se converteram ao
protestantismo. Tenho cinco membros da família que hoje são evangélicos.
#areiabrancanossa: O senhor chegou aqui em
2014. Houve alguma recomendação especial da diocese em relação à paróquia de
Areia Branca?
Padre Cezar: Cheguei em 2014 aqui e houve de
fato por parte da província uma recomendação, que eu viria para uma cidade
pequena, que antes eu estava em cidades grandes, 50 mil habitantes, 100 mil
habitantes, 250 mil habitantes e que aqui eu precisaria ter um pouco de cuidado
e que seria uma cidade que tinha um cheiro de política, para não se envolver
muito nessa questão e para que não prejudicasse principalmente os fiéis, que
cada um pudesse ter seu partido. Em
relação à diocese a exigência é que eu pudesse dar continuidade ao que outros
sacerdotes fizeram, os padres que me antecederam no serviço da missão.
#areiabrancanossa: Quase todos os padres que
aqui exerceram o sacerdócio eram de origem europeia, ou mais precisamente
italiana. O senhor sendo brasileiro
acabou sendo muito bem recebido. O fato de o europeu ser mais frio nas relações
sociais pode ser considerado um ponto diferencial?
Padre Cezar: Com certeza sim. Areia Branca
sempre teve padres salesianos e todos da Europa, principalmente da Itália e
isso também gerou na cidade pelo fato de serem europeus, uma relação de certa
frieza. Por outro lado eles também ajudaram a construir algumas comunidades na
cidade como a Somobam. Eles eram italianos que tinham certa condição
financeira, trouxeram muita ajuda da Itália que de certo modo dificultou,
porque sendo um povo acostumado a ter tudo e eu peguei uma realidade contrária,
eu e outros brasileiros que passaram não tínhamos tanto a oferecer as pessoas,
principalmente na questão financeira. Então eu senti um pouco essa diferença e
graças a Deus eu consegui dá um passo a frente numa cidade de fato hospitaleira,
acolhedora e rapidamente eu consegui ter acesso ao povo e o povo a mim com uma
aproximação de muitas pessoas que estavam afastadas da igreja.
#areiabrancanossa: No passado alguns
reclamavam muito que havia certa influencia da politica partidária local dentro
da igreja. Quando o senhor chegou, o senhor percebeu que essa ideia tinha
fundamento?
Padre Cezar: Percebi sim. Já havia sido
alertado que no povo é muito forte nessa questão de cada um ter seu grupo, sua
cor, seu partido e queira ou não isso influencia também. Então eu falei para os
fiéis que nesse ano de eleições eu gostaria que ninguém tocasse em nenhum nome
de candidato dentro da igreja e cada um pudesse ter seu partido, sua cor e que
respeitasse o ambiente religioso e litúrgico. Pois ali ninguém tem partido, nós
somos um único partido, o partido de Cristo, da mesma família cristã. Eu fiz um
grande apelo aos fiéis para que não misturassem as coisas.
#areiabrancanossa: O senhor iniciou o
sacerdócio na paroquia de Juazeiro do Norte, que é um grande centro religioso.
Há diferença entre o fiel juazeirense e o areibranquense?
Padre Cezar: Com certeza. Lá o fiel é o
fiel romeiro, o fiel que vem de todas as cidades do nordeste do Brasil para se
encontrar com o Padre Cícero, que para o romeiro está vivo no meio deles. Ali o
romeiro é mais caloroso, o romeiro deseja ter uma aproximação maior, o romeiro
abre mais o coração, não tem burocracias e aqui é uma cidade portuária e a
gente sempre encontra uma dificuldade ter uma aproximação maior do povo, já que
é outra cultura totalmente diferente do romeiro, que está mais próximo do
padre, tendo como um defensor, um conselheiro, um pai espiritual. Então a gente
sente uma grande diferença, pelo fato da cultura ser diferente.
#areiabrancanossa: Hoje vivemos um momento
difícil ao que se refere à violência urbana. Dentro da igreja existe otimismo
para que esse quadro mude? Há algum projeto social em relação a isso?
Padre Cezar: O grande desejo da igreja e da
conferencia nacional dos bispos do Brasil é a gente ter uma política pública, da
cultura do não á morte, mas sim à vida e que o próprio Jesus Cristo disse: “eu
vim para que todos tenham vida e a tenha em abundância” e a igreja tem essa
dimensão de buscar a vida e aí se você pega aqui o Salesiano e Dom Bosco, nós
temos uma obra, a obra chamada salesiana
que é uma obra social, temos o oratório que funciona diariamente e temos
mais de 300 jovens todas a noites e os adolescentes que vão jogar bola, vão
rezar e o lanche as sextas e ali é um espaço da igreja que nos ajuda a tirar
esse jovens da rua, que poderiam estar nas drogas, no crack, na bebedeira e
eles passa vida e gastam suas energias em um ambiente religioso que são as
obras sociais Dom Bosco que é a pupila ou deveria ser a pupila dessa paróquia.
#areiabrancanossa: Antes da chegada do
senhor, houve uma mudança arquitetônica na fachada da igreja matriz que foi
muito criticada por aqueles que acharam que o aspecto original deveria ser
preservado. Como o senhor ver essa questão?
Padre Cezar: Eu passei pela Areia Branca
quando era seminarista e amava profundamente a escadaria da igreja Matriz com
aquela calçada aonde as pessoas chegavam ao final da tarde, onde os casamentos
eram belíssimos, diante do mar, do rio. Ali se tinha uma visão melhor da
igreja. Quando eu cheguei aqui e encontrei algumas reclamações por causa dessa
mudança e algumas pessoas diziam que não foram consultadas e que foi uma
mudança brusca e que dois ou três combinaram com o padre e fizeram e o povo em
geral não ficou satisfeito com esse barco. Porque esse barco deveria ter sido
feito lá nos Navegantes e aqui é Padroeira Nossa Senhora da Conceição e lá a
dos navegantes. Mas... Com o tempo o povo vai se acostumando, vai entendendo,
mas até hoje recebemos muita reclamação de ter destruído o que era antigo,
histórico em Areia Branca.
#areiabrancanossa: Aqui em Areia Branca o
senhor conquistou a simpatia de outros ramos religiosos, como por exemplo, os
evangélicos. O senhor acredita que essas diferenças religiosas dentro
do cristianismo serão amenizadas no futuro?
Padre Cezar: Com certeza. A gente tem visto
o Papa Francisco lutando, buscando alianças, igualdade entre as religiões e a
ponto de pedir perdão se um dia a igreja católica por algum motivo destruiu a
vida de alguém por razão desse separatismo. O grande desejo nosso, eu como
padre da cidade é de manter essa unidade, pois a religião é uma escolha de cada
um e quem salva é Cristo não é religião. Se nós buscamos Cristo por que estamos
divididos? Então eu tento manter essa aliança, não falo mal dos evangélicos,
cada um vai para sua igreja, ter o seu credo e devem ser sim respeitados e na
igreja temos uma divisão chamada de ecumenismo e é claro que é difícil ter
ecumenismo entre as religiões, mas temos que pensar e respeitar o direito de
cada um. E olhe o que seria da cidade de Areia Branca se não fossem as
religiões? Veja quanto o bem elas fazem, pois se não fossem essas igrejas, esses
templos que buscam a Deus, que buscam a paz poderíamos ter um numero maior de
viciados em crack, no álcool e outras coisas justamente porque é uma cidade
portuária. E se não fossem as religiões? Claro, cada pastor com sua forma de
pregar, mas como disse São Paulo: “São vários dons e carismas, mas o senhor é o
mesmo, ele é o alfa, o ômega, o principio e o fim. Ele é a cabeça e nós somos
simplesmente seus seguidores.
#areiabrancanossa: Há uma unanimidade em
dizer que o senhor é um sacerdote incansável. Para o senhor é essencial que o
sacerdote tenha a vocação para conduzir as tarefas em
momentos difíceis ou de cansaço?
Padre Cezar: Ás vezes nós nos sentimos estafados, cansados.
Sentimo-nos também muitas vezes desmotivados quando a gente não alcança aquele
mérito ou aquele projeto que a gente queria, mas a gente sabe que os projetos
humanos podem ser falhos, mas o que vem de Deus é o que consola a vida da
gente, dá forças para caminhar e que pode aliviar todo o cansaço físico é
sempre Deus. São Paulo já dizia: “Tudo
posso naquele que me fortalece” e quando me sinto fraco, sou forte em Cristo. E
temos que combater o bom combater e levantar a cabeça mesmo diante do
sofrimento, e que mesmo com os desânimos da vida, não desistir.
#areiabrancanossa: O senhor substituiu o
Padre Bino em 2014. Daqui a três anos, onde estará Padre César?
Padre Cezar: Depende da nossa província que designa o grupo
salesiano. Como aqui na cidade eu sou o pároco e o diretor, o cargo de diretor
é de três anos ou pode-se repetir mais três anos e o pároco geralmente são seis
anos, mas depende muito da necessidade da província. Se houver necessidade de mudar
antes dos três anos, se muda ou permanece mais tempo. Portanto eu não posso
dizer a ninguém se serei amanha ou depois transferido. Tudo dependerá da
necessidade da província.
#areiabrancanossa: O senhor gostaria de
deixar uma mensagem para os católicos e amigos de Areia Branca?
Padre Cezar: Gostaria sim de deixar uma mensagem de
otimismo e alegria e dizer que diante de todas as dificuldade que o povo tem
passado, seja na parte cultural, seja na parte política ou até mesmo religiosa
ou seja na crise que estamos passando, crise financeira, é importante não
desanimar e desistir porque um novo céu se abre e as pessoas sonham, desejam,
querem trabalhar juntos, terem uma cidade melhor, uma cidade mais justa, onde
haja mais políticas publicas para melhor atender o povo e portanto não desistam
e quem não desiste Deus permanece ao lado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário