segunda-feira, 2 de maio de 2016

CRÔNICA POR RENATO BORGES

Autor desconhecido

HISTÓRIAS DA MEIA-NOITE

Olhando as garrafas de cachaça vazias, tínhamos certeza que era hora de retornar à cidade, uma vez que, desde às duas horas da tarde, estávamos na Velha Bomba da Salina, a que ficava muito distante (já bem próximo à Serra Vermelha).
Como cegos a tatear na própria escuridão que lhes invadem, tentávamos vencer os barrancos que margeavam os cercos. Era realmente uma noite escura, sem falar que uma tempestade se anunciava.
Como têm registrado os contos de fadas, os caminhos aparentemente mais fáceis tendem a guardar surpresas não muito agradáveis, além dos monstros que povoam cada enredo. Dessa maneira, desviei da nossa acidentada trilha, por enxergar largo mais escampado e firme, onde se denotava ao longe um velho barracão com seu moinho ao lado.
Eu não me dei conta que havia me separado do grupo, talvez, pela sede que me castigava a garganta. Quando dei por mim, já estava dentro do misterioso barracão.
Lentamente, tentando encontrar algum pote ou quartinha com água, ia arrastando os pés, porque tinha medo de tropeçar em algo, conseguindo dar passos maiores, quando as luzes dos relâmpagos entravam pelas frestas das janelas.
De repente, parei petrificado de pavor. É que senti um toque no meu ombro direito... algo pesado e seco, parecendo se balançar como um pêndulo. Mergulhei no abismo de medo que já me consumia, sabendo que não se tratava de boa coisa e que, sozinho, teria de enfrentar a tal situação e, assim, veio o desfecho:
A claridade de mais um raio mostrou na parede medonha figura, a silhueta de uma velha enforcada e que parecia tentar enganchar os pés sobre meus ombros, forçando uma cavalgada.
Quis gritar, mas a voz sumiu da garganta; o coração parecia sair pela boca; desejava correr, mas as pernas não obedeciam. Foi, então, que me lembrei de um conselho materno, um que eu pensava ter esquecido e que viera em meu socorro, em forma de lembrança quando mais precisei --- a oração “Salve Rainha”.
Ali, eu me peguei com Deus e com todos os santos que já ouvi falar. Como água cristalina que rompe nuvens carregadas, defendo ter ocorrido um milagre, pois quando dei por mim, já estava longe daquela visão dantesca, já enxergando as luzes de Areia Branca.
Foi quando o grupo de colegas se aproximou de mim, lançando-me a pergunta:
--- E aí?... também viste a Velha Enforcada?

O Autor

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