quinta-feira, 30 de junho de 2016

NOTA DO BLOGUEIRO


Devido a compromissos eleitorais, a mim foi aconselhado a interromper as publicações do blog a partir de hoje. Foi uma decisão que me deixou um pouco em dúvida e triste, pelo fato do blog ter criado um hábito e raízes, fazendo parte da minha rotina. Foram mais de 150 postagens durante três meses e em alguns momentos obtive boa ajuda de alguns colaboradores como Renato Borges, o Sr. Francisco Ferreira e também o bom compartilhamento de imagens dos nossos amigos do facebook. Nessas postagens talvez tenham opiniões por mim equivocadas, mas que o objetivo sempre foi manter a coerência. Lamento pelo fato de Areia Branca carecer de uma mídia mais aberta, crítica e voltada para a transparência em todos os aspectos da sociedade, mesmo que não gire apenas em questões politicas e sociais. Nossa cidade precisa muito disso, muito mesmo. A liberdade de expressar o que nos oprime e aflige é algo que não tem preço. Agradeço a aqueles que dedicaram um pequeno momento de suas vidas para ler alguma matéria publicada no blog, mesmo que não considerasse o conteúdo interessante ou agradável. Para finalizar vou deixar um poema de Drummond que considero uma obra prima feita de palavras e que mesmo tendo sido escrita a mais de 40 anos, segue mais atual do que nunca.
"Areia Branca é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava..."

Angelo Vale



Mundo grande - Carlos Drummond de Andrade

"Não, meu coração não é maior que o mundo.
Ê muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo.
Por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens.
as diferentes dores dos homens.
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai’ inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos —— voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar.
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
— Ó vida futura! nós te criaremos

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