Aonde foram parar as boas e velhas latas de querosene. Aquelas que tinham mil e uma utilidades, porque podiam levar ou guardar praticamente qualquer coisa, fosse areia ou fosse água... Praticamente, qualquer coisa.
Por tabela, não há como me lembrar dessas latas sem que as mesmas me remetam a certo episódio vivenciado por uma tia da cidade de Areia Branca.
Pois bem, se uma aliá (fêmea de elefante) tem gestação que dura vinte e dois meses, essa parente teve uma que durou vários anos. Calma!... não sorria nem se assuste, permita-me apenas que eu puxe um tamborete para me sentar um pouquinho que eu te contarei o ocorrido.
Eh!... bem me lembro, eu ainda pequenino, a observar minha tia solitária e a chorar baixinho pelos cantos da casa em que morava. Até então, eu não sabia se o choro vinha de alguma dor ou dos comentários maldosos do povo nas ruas. E você, amigo, bem pode saber o quanto devastador pode ser um boato ou uma fofoca.
Dessa maneira, sem que desconfiassem os fofoqueiros que eu era da família, costumavam jogar no vento repetidos motes, tais como: "lá vai a Santinha levando na barriga um filho de Dr. Fulano ou Cicrano" ou "Essa dormiu sem calças" ou ainda "Quem mandou comer tripa com ovos à noite?".
Mas como o tempo costuma dar resposta para tudo, em certa manhã, após anos e anos levando tanto peso extra naquele corpo tão magro, ela se internou em uma maternidade em Mossoró. Foram várias horas de cirurgia, e a sofrida parente deu a luz, isto é, retirou do ventre um tipo de tumor que pesava quase vinte quilos.
Infelizmente (ou felizmente) esse estranho primo nasceu sem vida. Eu mesmo o enterrei acondicionado dentro de uma velha lata, bem ao lado do velho coqueiro que ficava nos fundos do quintal da nossa casa da rua Rodrigues Alves, em Mossoró.
Realmente, as antigas latas de querosene serviam para muita coisa. Inclusive, para enterrar todos os boatos que tantas vezes fizeram minha estimada tia chorar baixinho pelos cantos da casa da minha avó.
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