Quando menino, toda vez que ia à Areia Branca, tinha a impressão que estava no estrangeiro, pois não conseguia entender o porquê dos moradores, embora fossem batizados e tivessem nomes e sobrenomes, serem chamados por apelidos.
Era um Cueca pra cá, um Macambira pra lá. Aonde eu olhasse estaria um apelido representando algum habitante, tipo:
-- Menino, vá em Raimundo Caçula... --- Traga pães de Caboclo.
Ora, nem meus colegas mais próximos escaparam, como o Picolino (filho de Alberto Elias) ou Antônio de Puxuca (lá da Rua das Almas).
Pensando bem, até alguns parentes deram vida : a alguns apelidos sui generis, tais como: Madame Irene, uma prima segunda, como dizia minha mãe, além de Gringo (o irreverente Poliglota), também filho de tia Lurdinha. Mas uma alcunha em especial me fez escrever este texto, é que alguém, após décadas, resolveu surgir em minhas lembranças: o Pitolé de Tôto.
Pitolé é um primo, filho de Tio Nizário. Morava vizinho ao cemitério, em uma das casas que, desapropriadas, cederam espaço à TERMISA (hoje, CODERN).
Pois bem, pitolé era um garoto franzino, esguio e tinha um defeito de dicção, isto é: trocava o fonema "k" por "t". Aí, resolveu vender picolés sempre de um mesmo sabor (de coco). Ora, não deu outra: a meninada não perdoava ao se deparar com meu primo carregando uma grande caixa de isopor :
-- Pitolé, hoje, tem de que?
Inocente, o pobre respondia:
-- De tôto.
Eh!... por onde andará, numa hora dessa, o Pitolé de Toto?
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*Palavras paroxítonas terminadas em "o" não são acentuadas. Todavia, de propósito, resolvi acentuar a palavra "tôto" com o objetivo de criar a sensação sonora.
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