Desde a pré história que o ser humano busca caminhos para que sua existência fosse a mais tranquila e menos dolorosa possível. Essa busca nem sempre foi a de melhores escolhas. Os humanos nunca conseguiram ser unir de verdade e as guerras eram realizadas como algo pontual e rotineiro. E dentro dessa premissa, desde nossa existência que se tenta evitar a auto-destruição. Já no início da Bíblia temos o primeiro homicídio, quando o escritor narra o assassinato de Abel pelo irmão Caim. As religiões se expandiram e mesmo com os incansáveis e constantes discursos de amor e paz, as mesmas comentarem atrocidades incalculáveis: cristãos x budistas, cristãos x muçulmanos, católicos x protestantes, muçulmanos x muçulmanos e etc e etc. Quando vivemos em uma época que a tecnologia e o conhecimento pró-vida se alastraram, acabamos tendo ao mesmo tempo um Brasil onde mais e mais pessoas conquistaram o sentimento de apatia e indiferença diante da mortandade do dia-a-dia. Temos uma das nações que mais se mata no mundo. Aqui em nosso estado, foi criado o site do sindicato da policia civil, o SINPOL, onde você pode verificar o contador de homicídios (CLIQUE AQUI para abrir o site). Nesse momento é mostrado 2.329 mortes em nosso estado por violência, um recorde absoluto. E seguindo esse caminho, percebemos que vivemos num dos estados com um maiores índices de desiquilíbrio social do Brasil. Nós, que moramos na pequena cidade de Areia Branca estamos muito longe de um local ideal que talvez a busca pelo básico e pela sobrevivência tenha criado em nós um torpor que nos impeça de achar que mereçamos mais, relativamente muito mais. Percebo que alguns já se libertaram das amarras do pensamento retrógrado e pernicioso, mas ainda é uma gota nesse enorme oceano de incerteza e comodismo. Para finalizar deixo abaixo um poema do eterno Drummond que conhecia como poucos a natureza humana e sua busca pela esperança. Feliz Natal a todos e que todo dia mereça ser ano novo (de verdade).
Angelo Vale
RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
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